UNDE MALE FACIAMUS? RICOEUR, AGOSTINHO E O PROBLEMA DO MAL
Resumo
De onde vem o mal? Como pode a prática do mal coadunar-se com a ideia de um Deus misericordioso e omnipotente? Estas e outras interrogações animaram o debate filosófico durante séculos, do legado platónico e plotiniano ao cristianismo medieval e ao modelo formal da teodiceia. O presente estudo partirá dos escritos hermenêuticos de Paul Ricoeur para reconstituir algo como uma breve história do mal e das suas formulações. Enquanto para Ricoeur a herança leibniziana confina o problema do mal a um horizonte estritamente lógico, as leituras paulina e, sobretudo, augustiniana mantêm-se fiéis à sua raiz ontológica. Todavia, apesar da sua riqueza, a resposta augustiniana é consideravelmente ambígua. Consoante os textos e os seus destinatários, Agostinho parece oscilar entre a imagem clássica de uma harmonia mundi e uma concepção hereditária do pecado que transcende a cosmologia neoplatónica e funda um novo olhar sobre a natureza humana.