Entre princesas e prostitutas:

as alegorias do feminino na modernidade

  • Michel Amary Universidade de São Paulo
Palavras-chave: Walter Benjamin, Barroco Alemão, Modernidade, Alegoria, Feminino

Resumo

Resumo: Nesse ensaio propomos investigar a dimensão feminina no pensamento de Walter Benjamin a partir da expressão alegórica da linguagem que não apenas se mostra esteticamente, mas se define como categoria ética. Nesse sentido, em primeiro lugar percorreremos o nascimento da filosofia nos gregos e sua constituição a partir do pensamento masculino para confrontar com a crítica epistemológica de Benjamin que, emprestando o platonismo, anuncia a verdade como bela. Na crítica a representação já vemos a questão de identificação linguística que diferencia o símbolo e a alegoria e os posiciona ao lado do que denominamos uma tradição masculina e feminina do pensamento. Após devemos explorar o uso alegórico na representação das rainhas nos dramas do barroco alemão, tomando o martírio de figuras como Agrippina, Catharina e Sophonisbe para apresentar, nas ambiguidades morais e políticas de seu tempo, a dimensão criatural e melancólica das mulheres no barroco alemão, as diferenças de moralidade na modernidade luterana e iluminista e a caracterização da história como natureza. Por fim, exploramos nas transformações sociais ocasionadas pela expansão do modo de produção e circulação de mercadorias na modernidade parisiense as transfigurações da alegoria pelas heroínas de Baudelaire. Passamos da impotência masculina a forma de objetificação da mulher manifesta nos manequins, nas lésbicas e nas prostitutas.

Keywords: Walter Benjamin, deutschen Trauerspiel, Modernity, Allegory, Feminin

Abstract: This essay propose to investigate the feminine dimension in Walter Benjamin's thought from the allegorical expression of language that is not only shown aesthetically, but is defined as an ethical category. In this sense, first of all, we will go through the birth of philosophy in the Greeks and its constitution based on male thought to confront Benjamin's epistemological criticism, which, borrowing from Platonism, announces the truth as beautiful. In the criticism of representation, we already see the question of linguistic identification that differentiates the symbol and the allegory and places them alongside what we call a male and female tradition of thought. After that, we should explore the allegorical use in the representation of queens in the dramas of the German Baroque, taking the martyrdom of figures like Agrippina, Catharina and Sophonisbe to present, in the moral and political ambiguities of their time, the creative and melancholic dimension of women in the German Baroque, the differences in morality in Lutheran and Enlightenment modernity and the characterization of history as nature. Finally, we explored in the social transformations caused by the expansion of the mode of production and circulation of goods in Parisian modernity the transfigurations of allegory by the heroines of Baudelaire. We have gone from male impotence to the form of objectification of women manifested on mannequins, lesbians and prostitutes.

Keywords: Walter Benjamin, deutschen Trauerspiel, Modernity, Allegory, Feminin

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Biografia do Autor

Michel Amary, Universidade de São Paulo
Mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Defendeu dissertação sobre a formação e a crítica de arte do drama barroco alemão de Walter Benjamin

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Publicado
2021-05-21
Seção
Filosofia e arte