A representificação do ausente em O corpo interminável, de Claudia Lage
Resumo
O objetivo deste trabalho é analisar a “representificação do ausente” (Catroga, 2009) no romance O corpo interminável, de Claudia Lage (2019). A hipótese principal é a existência de uma força compressiva que age sobre o protagonista originando uma tensão entre corpo ausente e corpo desejado. O passado recente do Brasil também é revisitado pela ficção que, estrategicamente, reencarna vozes anônimas, recupera o silêncio dos desaparecidos políticos e oferece-lhes um espaço para testemunharem. Tem-se um romance no qual o estético e o ético abrem espaço para uma reflexão sobre uma história forçadamente conclusa. Faz-se, pela via da literatura, uma crítica não apenas aos discursos oficiais da história, mas também aos dispositivos constitutivos da memória coletiva que ignora os traumas deixados pela violência de Estado. Nesse sentido, O corpo interminável estabelece um “diálogo com os signos da ausência” (Catroga, 2009) e converte-se em testemunho daqueles que não sobreviveram à violência de Estado.
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