A representificação do ausente em O corpo interminável, de Claudia Lage

Palavras-chave: Corpo, Memória, Tortura, Desaparecidos políticos, Luto

Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar a “representificação do ausente” (Catroga, 2009) no romance O corpo interminável, de Claudia Lage (2019). A hipótese principal é a existência de uma força compressiva que age sobre o protagonista originando uma tensão entre corpo ausente e corpo desejado. O passado recente do Brasil também é revisitado pela ficção que, estrategicamente, reencarna vozes anônimas, recupera o silêncio dos desaparecidos políticos e oferece-lhes um espaço para testemunharem. Tem-se um romance no qual o estético e o ético abrem espaço para uma reflexão sobre uma história forçadamente conclusa. Faz-se, pela via da literatura, uma crítica não apenas aos discursos oficiais da história, mas também aos dispositivos constitutivos da memória coletiva que ignora os traumas deixados pela violência de Estado. Nesse sentido, O corpo interminável estabelece um “diálogo com os signos da ausência” (Catroga, 2009) e converte-se em testemunho daqueles que não sobreviveram à violência de Estado.

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Biografia do Autor

Rosicley Andrade Coimbra, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

Possui Graduação em Letras pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (2008), Mestrado em Letras pela Universidade Federal da Grande Dourados (2011) e Doutorado em Estudos Literários no Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Goiás, onde desenvolveu pesquisa sobre a obra de Caio Fernando Abreu. Atua nas áreas de Literatura Brasileira Contemporânea, com experiência nos seguintes temas: Literatura Brasileira pós-64, Violência urbana, Identidade, Narrativa e Experiência e Poéticas da modernidade.

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Publicado
2024-07-25