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Caletroscópio is a publication of the Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos da Linguagem (Graduate Program in Letters: Language Studies), associated with the Department of Letters of the Federal University of Ouro Preto. Its goal is to promote and publicize research in the realm of language in general, and more specifically in the areas of linguistics; literary studies; and applied linguistics; and their interfaces with the approaches of cultural memory, translation, and discursive practices. In this manner, Caletroscópio aims to contribute to the development of research of a wide and interdisciplinary scope, thus enabling the dialogue between language and the diverse fields of knowledge. It publishes biannually and it has, among its permanent Editorial Council, researchers and professors of national and international learning institutions. This guarantees the involvement of specialists in the evaluation process of the articles published by Caletroscópio.    

 

CAPES 2020

 Qualis B1, area of Letters and Linguistics.

  • Escrita e pulsão: a literatura e seus destinos

    2024-10-16

    Organizadores: 

    Carolina Anglada (UFOP)

    Derick Teixeira (UEMG)

     

    A pulsão (Trieb), segundo Lacan, é o eco no corpo do fato de que há um dizer. Em psicanálise, esse dizer é imaterializável, “força constante” (Freud, 1915), sem aporte na fantasia ou no desejo. Nas palavras de Freud, trata-se de um “conceito fronteiriço”, “representante psíquico dos estímulos oriundos do interior do corpo e que alcançam a alma” (1915). Uma provocação e um desafio à oposição entre o que é inato e o que é culturalmente adquirido, o que é da ordem da sexualidade e os efeitos dos processos de subjetivação. Indeterminado, litorâneo, extrapessoal, esse conceito nunca foi deixado de lado. Ao contrário, por operar numa espécie de zona cinzenta, atraiu a especulação e o pensamento em direção à ficção e ao mito: “A teoria das pulsões é, por assim dizer, nossa mitologia. As pulsões são seres míticos, formidáveis em sua indeterminação” (Freud, 1933).

     

    O pensador alemão, Walter Benjamin, sensível ao que, na arte, manifesta-se como impedimento ao exercício assegurado da liberdade, foi um dos que primeiro valeu-se da Trieb freudiana, no sentido de dar a ver essa espécie de força mítica a que não se deve tentar superar, mas com ela compor dialeticamente. Partindo do “inconsciente pulsional” (Triebhaft-Unbewussten) de Freud, Benjamin imaginou um “inconsciente óptico” (Optische-Unbewussten) em sua “Pequena história da fotografia”: “A natureza que fala à câmera não é a mesma que fala ao olhar; é outra, especialmente porque substitui a um espaço conscientemente trabalhado pelo homem, um espaço que ele percorre inconscientemente” (Benjamin, 1931). O que conta é a percepção de um automatismo e de uma dinâmica, que, no caso da fotografia, é assumido pela câmara, ao trocar o “sujeito da consciência” e seu olhar por um objeto capaz de capturar, por si mesmo, as “características estruturais, tecidos celulares”: “tudo isso tem mais afinidades originais com a câmera que a paisagem impregnada de estados afetivos” (Benjamin, 1931).

     

    Roland Barthes, em sua Preparação do romance, anota: “O ‘Querer-Escrever’ = atitude, pulsão, desejo, não sei bem: mal estudado, mal definido, mal situado” (Barthes, 1978-79). O que suscita o desejo de escrita, bem se sabe, não é o objeto; é o que escapa à determinação simbólica, ao organismo. São fantasmas, signos plurais e vazios, atos sem sujeito, gestos para fora, práticas do neutro. Põe-se em movimento um conjunto de exercícios que não se naturalizam em parte alguma, e que por isso mesmo são circulares, repetitivos, insistentes. Em Sade, Fourier, Loyola, é o pensador quem sublinha que “a escrita, para retomar uma terminologia lacaniana, conhece apenas insistências”.  Lacan usa mesmo o termo "insistência" para falar do movimento da pulsão na compulsão à repetição, no qual se insinua um além do princípio de prazer, o gozo. Como pulsões sexuais, contornam supostos objetos e só se tornam conhecidas por esses volteios e séries, pelo processo ativo de variação infinita: “o produto não é distinto da produção, a prática da pulsão (nisso, pertence a uma erótica)” (Barthes, 1978-79).

     

    Propomo-nos, portanto, pensar como esse exercício pulsional, essa “exigência de trabalho” (Freud, 1915), atravessa a escrita e a imagem, culminando em obras que dão destino à pulsão, identificável ou não àqueles circunscritos por Freud: reversão em contrário; retorno à própria pessoa; recalque ou sublimação. Assim, acolhemos nesta chamada contribuições teóricas e/ou críticas, que partam das interseções entre arte e psicanálise, e que deem a ver a pulsão em alguma de suas vertentes: como potência ou virtualidade, pulsão de vida e de morte, letra e transmissão, lalangue e língua pulsional, deriva e destino, erótica e sublimação, mito e unheimlich.

     

    Prazo para submissão dos textos: 28 de fevereiro de 2025

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