O possessivo de 2a pessoa em PB dialetal

  • Bruna Karla Pereira UFVJM
Palavras-chave: Possessivos de 2ª pessoa. Traços- φ. NumP. Cardinais. Morfema de plural.

Resumo

Resumo: Em português padrão, assim como em outras línguas românicas, os pronomes possessivos carregam traços não interpretáveis de número, que são valorados via concordância nominal. No entanto, certos dialetos do português do Brasil (PB) mostram que o possessivo de 2ª pessoa, principalmente em posição posposta, não concorda em número com o nome. Por exemplo, no dialeto mineiro, um N no singular pode coocorrer com possessivo no plural, que se refere a 2ª pessoa do plural (‘de vocês’). Do mesmo modo, um N no plural pode coocorrer com possessivo no singular, que se refere a 2ª pessoa do singular. Para explicar esses fatos, argumentarei que, nessa gramática, os traços de número no possessivo de 2ª pessoa são (i) traços da pessoa e não do nome e são (ii) valorados; por isso, não se desencadeia concordância nominal em número no possessivo. Além disso, seguindo Danon (2011) e Norris (2014), argumentarei que, pelo fato de o possessivo prenominal estar antes do cardinal (NumP), ele é obrigatoriamente marcado com o morfema de plural, enquanto o possessivo pós-nominal não tem esta marca. Livre da marca morfológica de concordância nominal, o possessivo pós-nominal de 2ª pessoa favorece a reanálise do ‘-s’ como indicador do número da pessoa.
Palavras-chave: Possessivos de 2ª pessoa. Traços- φ. NumP. Cardinais. Morfema de plural.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BLÜHDORN, Hardarik. et al. Sintagmas nominais contáveis e não-contáveis no alemão e no português brasileiro. In: BATTAGLIA, Maria Helena; NOMURA, Masa (Org.). Estudos linguísticos contrastivos em alemão e português. São Paulo: Annablume, 2008. pp. 41-82.
BRITO, Ana Maria. European Portuguese possessives and the structure of DP. Cuadernos de Lingüística del I.U.I. Ortega Y Gasset, v. 14, pp. 27-50, 2007.
CASTRO, Ana. Os possessivos em português europeu e português brasileiro: unidade e diversidade. In: XVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, 2001, Lisboa. Actas... Lisboa: APL, 2001. pp. 599-613.
CASTRO, Ana; Pratas, Fernanda. Capeverdean DP-internal number agreement: additional arguments for a distributed morphology approach. In: COSTA, João; FIGUEIREDO SILVA, Maria Cristina (Org.). Studies on agreement. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2006. pp. 11-24.
CERQUEIRA, Vicente. A forma genitiva ‘dele’ e a categoria de concordância (AGR) no português brasileiro. In: ROBERTS, Ian; KATO, Mary. Português brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas: UNICAMP, 1993. pp. 129-161.
CHOMSKY, Noam. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, Michael (Ed.). Ken Hale: a life in language. Cambridge: The MIT Press, 2001. pp. 1-52.
CINQUE, Guglielmo. Deriving Greenberg’s Universal 20 and its exceptions. Linguistic Inquiry 36 (3), pp. 315-332, 2005.
COENE, Martine; D’HULST, Yves (Ed.). From NP to DP: The expression of possession in noun phrases. New York/ Amsterdam: John Benjamins, 2003.
COSTA, João; FIGUEIREDO SILVA, Maria Cristina. Nominal and verbal agreement in Portuguese: an argument for distributed morphology. In: (Org.). Studies on agreement. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2006. pp. 25-46.
DANON, Gabi. Agreement and DP-Internal Feature Distribution. Syntax 14 (4), pp.
297-317, 2011.
26 Desse modo, a análise desenvolvida nesse artigo reformula e prevalece sobre hipóteses levantadas em estágios prévios dessa pesquisa (PEREIRA, 2015, 2016a, 2016b).
170
GIUSTI, Giuliana. Is there a FocusP and TopP in the Noun Phrase structure? University of Venice Working Papers in Linguistics, v. 6, n. 2, p. 105-128, 1996.
GIUSTI, Giuliana. The categorial status of quantified nominals. Linguistische Berichte:
Forschung, Information, Diskussion. Opladen, p. 438-454, 1991.
KATO, Mary. A complementaridade dos possessivos e das construções genitivas no português coloquial: réplica a Perini. DELTA 1 (1, 2), pp. 107-120, 1985.
MAYNOR, Natalie. Battle of the pronouns: Y'all versus you-guys. American Speech
75(4), pp. 416-418, 2000.
MÜLLER, Ana. A gramática das formas possessivas no português do Brasil. 1997.
Tese (Doutorado em Linguística), UNICAMP, Campinas, 1997.
NEVES, Maria. O pronome possessivo. In: ______. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP, 2000. pp. 471-489.
NORRIS, Mark. A theory of nominal concord. Tese (Doutorado em Linguística), University of California, Santa Cruz, 2014.
PEREIRA, Bruna Karla. O possessivo de 2ªPL no dialeto mineiro: DP e CP em análise. Linguistic Studies 11: Contemporary approaches to Portuguese Linguistics. Lisboa: Colibri/CLUNL, 2015. p. p. 111-128.
PEREIRA, Bruna Karla. A concordância em número com o possuidor: um estudo da sintaxe do DP. In: Martins, Marco et al. (Org). Estudos linguísticos: textos selecionados/Abralin-2013. João Pessoa: Ideia, 2016a. pp. 146-163.
PEREIRA, Bruna Karla. Second person possessives and allocutive agreement. In: Pilati, Eloisa (Org.). Temas em teoria gerativa: homenagem a Lucia Lobato. Curitiba: Blanche, 2016b. pp. 71-83. PEREIRA, Bruna Karla. The DP-internal distribution of the plural morpheme in Brazilian Portuguese. MIT Working Papers in Linguistics (Papers on Morphology, edited by Snejana Iovtcheva and Benjamin Storme), v. 81, p. 85-104, 2017.
PERINI, Mário. O surgimento do sistema de possessivo coloquial: uma interpretação funcional. DELTA 1 (1, 2), p. 1-16, 1985.
PESETSKY, David; TORREGO, Esther. The syntax of valuation and interpretability of features. In: KARIMI, Simin et al. (Org.). Phrasal and clausal architecture. Amsterdam: John Benjamins, 2007. p. 262-294.
SILVA, Giselle. Estertores da forma ‘seu’ na língua oral. In: SILVA, Giselle; SCHERRE, Marta (Org.). Padrões sociolinguísticos: análise de fenômenos variáveis do português falado na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. cap. 7, p. 170 - 181.
ZRIBI-HERTS, Anne. Les syntagmes nominaux possessifs en français moderne: syntaxe et morphologie. In: GUÉRON, Jacqueline; ZRIBI-HERTS, Anne. (Org.). La grammaire de la possession. Paris: Université Paris X – Nanterre, 1998. pp. 129 - 166.
Publicado
2018-12-30
Seção
Artigos - Dossiê