Três diretrizes para a arte; três dúvidas para o artista

uma leitura de Humano, Demasiado Humano, de Friedrich Nietzsche

  • Nísio Teixeira
Palavras-chave: arte, artista, gênio, Friedrich Nietzsche, Richard Wagner

Resumo

Escrito em 1883, oito anos após a publicação de Humano, Demasiado Humano, o prólogo do livro reforça os eixos temáticos que marcaram a trajetória desta obra de Friedrich Nietzsche, cujo subtítulo é Um Livro para os Espíritos Livres. No texto de abertura, o autor antecipa a denúncia estabelecida na obra: a orfandade do homem diante da desinvenção de Deus, do fracasso e da ineficiência da moral metafísica e do caráter redentor das artes. Resta ao homem voltar à sua própria história, humana, demasiada humana e buscar no conhecimento uma estratégia de força. Serão poucos: no projeto de Nietzsche, os raros espíritos livres terão de renunciar a várias coisas em busca de sua liberdade – por isso a necessidade dessa estratégia de força, como o próprio Nietzsche solicitou em passagem de A Vontade de Poder: “temos sempre que defender os fortes dos fracos”. Como em várias outras passagens de Humano, Demasiado Humano, o autor revê sua proposta de Nascimento da Tragédia e antecipa seu ataque ao gênio artístico – que fará no capítulo quarto – em especial ao compositor Richard Wagner. Cabe, a partir daqui, tentar recortar, “com a lâmina fria do conhecimento” o que disse o filósofo acerca do terceiro item de um tripé reavaliado pelo espírito livre em Humano Demasiado Humano: após martelar a religião e a metafísica, Nietzsche recai sobre a arte em três possíveis diretrizes: i) arte como processo cultural e social; ii) arte como um poder moderador, de transição, entre a religião e a filosofia e, como decorrência deste, iii) arte como o exercício vital de libertação do espírito livre. Segue-se que o “filósofo da suspeita” também vai duvidar do artista genial: i) como alguém iluminado e procurador do “em si’, da essência das coisas; ii) na inspiração “divina” que parece cair do céu e iii) no culto dedicado a ele.

Publicado
2009-12-01
Seção
Artigos