“Morreu ao ouvir o tento da derrota”: o “ludens narrativo” da linguagem radiofônica

  • Filipe Mostaro Uerj
Palavras-chave: narrativa, Copa de 1950, atmosfera, lúdico, imaginário

Resumo

Desde o processo de popularização do rádio, a narração esportiva se tornou um dos pilares deste veículo. A união das sonoridades presente nos estádios com os recursos sonoros dos locutores e de elementos técnicos proporcionados pela radiofonia criam uma atmosfera de sentidos que integra o ouvinte à narrativa. Neste artigo, apresento uma proposta de análise das narrativas elaboradas a partir das sonoridades esportivas que venho definindo como “ludens narrativo”. A partir da narração da Rádio Nacional da final da Copa de 1950 e seus metadiscursos em três jornais nacionais (O Globo, Folha da Manhã e A Noite), vou indicar como a narrativa (RICOUER, 2010), o jogo (HUIZINGA, 1972) e o imaginário (DURAND, 1997), que compõem esse “ludens narrativo”, constroem um ambiente que convida o ouvinte “jogar o jogo”, afetando diretamente seus sentimentos e provocando reações extremas.

Biografia do Autor

Filipe Mostaro, Uerj

Professor Adjunto da Faculdade de Comuincação da Uerj. Doutor em Comunicação pelo PPGCOM e coordenador do AudioLab na Uerj.

Referências

A Noite, Rio de Janeiro, 24 jun – 23 jul, 1950.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Editora Companhia das Letras, 2008.

ARHEIM, Rudolf. O diferencial da cegueira:estar além dos limites dos corpos. In: MEDITSCH, Eduardo (Org.). Teorias do rádio: textos e contextos. Florianópolis: Insular, 2005.

BACZKO, Bronislaw. A imaginação social. In: LEACH, Edmund et al. Anthropos-Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985.

BALSEBRE, Armand. A linguagem radiofônica. In: MEDITSCH, Eduardo (Org.). Teorias do rádio: textos e contextos. Florianópolis: Insular, 2005.

BARBOSA, Marialva. O filósofo do sentido e a comunicação. Conexão-Comunicação e Cultura, v. 5, n. 09, 2006.

BARTHES, Roland. A escrita e o acontecimento. In: MEDITSCH, Eduardo; ZUCULOTO, Valci (Org.). Teorias do rádio: textos e contextos. Vol. 2. Florianópolis: Insular, 2008.

BATESON, Gregory. Mente e natureza: a unidade necessária. Francisco Alves, 1986.
_______. Uma teoria sobre brincadeira e fantasia. Sociolingüística interacional, v. 2, p. 85-105, 2002.

BOLTER, Jay David; GRUSIN, Richard; Remediation: Understanding new media. mit Press, 1999.

BRINATI, Francisco. Maracanazo e Mineiratzen. Imprensa e Representação da Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1950 e 2014. Curitiba: Prismas, 2016.

CALABRE, Lia. A era do rádio. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2002.

CAILLOIS, Roger. Os jogos e os homens: a máscara e a vertigem. Petrópolis: Vozes, 2017.

CASTORIADIS, Cornelius. The imaginary institution of society. Mit Press, 1997.

DA SILVA, Juremir Machado. As tecnologias do imaginário. Editora Sulina, 2012.

DEL BIANCO, Nelia R. As transformações técnicas na produção do radiojornalismo e os valores notícia. In: M OREIRA, Sonia Virgínia (org.). 70 anos de radiojornalismo no Brasil, 1941-2011. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário: introdução à arquetipologia geral. Lisboa: Ed. Presença, 1997.

FIDLER, Roger. Mediamorphosis: Understanding new media. Pine Forge Press, 1997.

FRANÇA, Vera. O acontecimento e a mídia. Galáxia. Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica. ISSN 1982-2553, n. 24, 2012.

FRANCISCATO, Carlos Eduardo. A fabricação do presente: como o jornalismo reformulou a experiência do tempo nas sociedades ocidentais. Universidade Federal de Sergipe, 2005.

Folha da Manhã, São Paulo, 24 jun – 23 jul, 1950.

GASTALDO, Édison. Pátria, chuteiras e propaganda: o brasileiro na publicidade da Copa do Mundo. Annablume, 2002.

GASTALDO, Édison; GUEDES, Simoni Lahud. Nações em campo: Copa do Mundo e identidade nacional. Niterói: intertexto, 2006.

GUEDES, Simoni Lahud. Futebol e identidade nacional: reflexões sobre o Brasil. In: DEL PRIORE, Mary e MELO, Victor Andrade de. (Orgs.) História do Esporte no Brasil: do império aos dias atuais. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
______. O Brasil no campo de futebol: estudos antropológicos sobre os significados do futebol brasileiro. Editora Da Universidade Federal Fluminense, 1998.

GUERRA, Márcio. Rádio x TV: o jogo da narração. A Imaginação entra em campo e seduz o torcedor. Juiz de Fora: Juizforana Gráfica e Editora, 2012.

GUERRA, Márcio e RANGEL, Patrícia. O Rádio e as Copas do Mundo. Juiz de Fora: Juizforana, 2012.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura. Contraponto, 2014.
______. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Contraponto; PucRio, 2010.

HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguês. RJ: Tempo Brasileiro, 1984.

HELAL, Ronaldo; AMARO, Fausto (Orgs.). Esporte e mídia: novas perspectivas – a influência da obra de Hans Ulrich Gumbrecht. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2015.

HELAL, Ronaldo, SOARES, Antonio Jorge e LOVISOLO, Hugo. A invenção do país do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de Janeiro: Mauad, 2001.
______. Futebol, Jornalismo e Ciências Sociais: interações. Rio de Janeiro, EDUERJ, 2011.

HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. Editora da Universidade de S. Paulo, Editora Perspectiva, 1971.

KISCHINHEVSKY, M.; VIEIRA, I. M. ; SANTOS, J. G. B. ; CHAGAS, V. ; FREITAS, M. A. ; ALDÉ, A. . WhatsApp audios and the remediation of radio: Disinformation in Brazilian 2018 presidential election. The Radio Journal: International Studies in Broadcast and Audio Media, v. 18, p. 139-158, 2020.

LE GOFF, Jacques. L’Imaginaire medieval. Paris: Gallimard, 1985.

LEGROS, Patrick (et al.). Sociologia do Imaginário. Porto Alegre: Sulina, 2014.

LOPEZ, Débora Cristina. Radiojornalismo hipermidiático – tendências e perspectivas do jornalismo de rádio all news brasileiro em um contexto de convergência tecnológica. Covilhã: Livros LabCom, 2010.

MEDITSCH, Eduardo. O rádio na era da informação – Teoria e técnica do novo radiojornalismo. Florianópolis: Insular/Ed. da UFSC, 2001.

MELO, Victor Andrade de. et al. Pesquisa Histórica e história do esporte. Rio de Janeiro: 7 letras, 2013.

MEYROWITZ, Joshua. No sense of place: The impact of electronic media on social behavior. Oxford University Press, 1986.

MOREIRA, Sónia Virgínia. Rádio Palanque: fazendo política no ar. Mil Palavras, 1998.

MOSTARO, Filipe Fernandes Ribeiro. Imprensa e o futebol-arte: as narrativas da “nossa essência futebolística”. Curitiba: Editora Prismas, 2017.

MOSTARO, Filipe Fernandes Ribeiro; BRINATI, Francisco Angelo. Em busca do ouro: narrativas d’O Globo sobre a performance do futebol brasileiro nas Olimpíadas. Esporte e Sociedade, v. 11, p. 1-29, 2017.
______. Maracanã como mídia urbana: as narrativas jornalísticas, apropriações e interações no torcer no “maior do mundo”. RUA (UNICAMP), v. 24, p. 211-236, 2018.

MOSTARO, Filipe e HELAL, Ronaldo. Foot-ball Mulato e o imaginário nacional: a atmosfera de sentidos da Copa de 1938. ALCEU (ONLINE), v. 19, p. 16-35, 2018.

MOSTARO, Filipe; KISCHINHEVSKY, Marcelo. Narrativas sobre as primeiras transmissões de jogos internacionais da seleção brasileira. Revista LIS - Letra, Imagen, Sonido, Buenos Aires, v. 15, p. 147-165, 2016.

MOTTA, Luiz Gonzaga. Análise Crítica da Narrativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2013.
______. Enquadramentos lúdico-dramáticos no jornalismo: mapas culturais para organizar narrativamente os conflitos políticos. In: BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luis Felipe (Orgs.). Mídia, Representação e democracia. São Paulo: Hucitec, 2010.

O Globo, Rio de Janeiro, 24 jun – 23 jul, 1950.

ORTRIWANO, Gisela Swetlana. Radiojornalismo no Brasil: fragmentos de história. Revista USP, n. 56, p. 66-85, 2002.

PERDIGÃO, Paulo. Anatomia de uma derrota. Rio de Janeiro: L & PM Editores, 1986.

RETONDAR, Jeferson José Moebus. Teoria do jogo: a dimensão lúdica da existência humana. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

RICOEUR, Paul. Hermenêutica e ideologias. Petrópolis (RJ): Vozes, 2011.

______. Tempo e Narrativa. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

______. Teoria da interpretação. Lisboa: Edições 70, 2000.

SARMENTO, Carlos Eduardo Barbosa. A construção da nação canarinho: uma história institucional da seleção brasileira de futebol, 1914-1970. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

SAROLDI, Luiz Carlos; MOREIRA, Sonia Virgínia. Rádio Nacional, o Brasil em sintonia. Zahar, 2005.

SCHAFER, R. Murray. Afinação do mundo. São Paulo: Ed. Unesp, 2001.

SEVCENKO, Nicolau. Futebol, Metrópoles e Desatinos, Dossiê Futebol, Revista USP. num. 22, jun/ago de 1994.

SILVA, Marcelino Rodrigues da. Cidade Esportiva/ Cidade das letras. In: CAMPOS, Flávio e ALFONSI, Daniela. Futebol Objeto das ciências humanas. São Paulo: Leya, 2014.

SIMMEL, Georg. A natureza sociológica do conflito. Simmel. São Paulo: Ática, 1983. P. 122-134.

SINGER, Ben. Modernidade, hiperestímulo e o início do sensacionalismo popular. O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify, p. 95-123, 2004.

SOARES, Edileuza. A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo. Summus Editorial, 1994.

SOUZA, Denaldo Alchorne. O Brasil entra em campo! Construções e reconstruções da identidade nacional (1930-1947). São Paulo: Anablume, 2008.

TAVARES, Reynaldo C. Histórias que o rádio não contou. São Paulo: Harbra, 1999.
Publicado
2024-01-18
Como Citar
Mostaro, F. (2024). “Morreu ao ouvir o tento da derrota”: o “ludens narrativo” da linguagem radiofônica. Radiofonias – Revista De Estudos Em Mídia Sonora , 14(3), 140-165. Recuperado de https://periodicos.ufop.br/radiofonias/article/view/6810