Muito perto do povo e muito longe da elite: João Batista Marçal e a resistência à ditadura pelo rádio na Grande Porto Alegre
Resumo
Reconstitui, do ponto de vista histórico, as perseguições sofridas por João Batista Marçal, jornalista e radialista gaúcho enquadrado quatro vezes na Lei de Segurança Nacional, durante a ditadura civil-militar de 1964 a 1985. Usa como base metodológica a história oral (Alberti, 2005), além de se amparar em documentos e publicações, posicionando-se como um estudo que transita entre a história das instituições e a história propriamente dita (Schudson, 1993). Considera que a trajetória radiofônica de Marçal em emissoras autodefinidas como populares coincide com a estruturação da chamada fase de segmentação (Ferraretto, 2012) e com transformações verificadas na Grande Porto Alegre devido ao crescente êxodo rural e à ampliação da desigualdade social. Indica que o histórico de perseguições a este profissional é ímpar pelo volume e por se dar fora das rádios que dedicam parte de suas programações ao jornalismo, usualmente mais afetadas pela censura e pela repressão.
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