Origem, propagação e resolução da variação linguística na perspectiva da linguagem como um sistema adaptativo complexo
Abstract
Resumo: A variação linguística, assim como uma eventual mudança a ela associada, sempre se apresentaram como fenômenos desafiadores para as teorias e análises linguísticas. Desde a afirmação de Bloomfield (1933) de que “as causas da mudança linguística são desconhecidas”, várias propostas surgiram como resposta à seguinte pergunta: Por que as línguas mudam? Essas várias propostas, atrelaram uma possível resposta a essa questão ora a uma espécie de otimização do funcionamento das regras (cf. KIPARSKY, 1971), ora ao contexto social em que o fenômeno ocorria (cf. LABOV, 1972). Enfim, tanto no modelo gerativo quanto na sociolinguística, as possíveis causas para o surgimento da variação e da mudança linguística se situaram ora na contrapartida formal elaborada pelo analista, ora num conjunto de fatores exteriores à língua. Neste texto pretendo retomar a questão da variação linguística, com base em fatos do português de Belo Horizonte, pelo viés da linguagem enquanto um sistema adaptativo complexo, de natureza dissipativa. Levando-se em conta que a variação/mudança possa ser vista como um problema que envolve três estágios, origem, propagação e resolução, meu objetivo será o de oferecer uma resposta a três perguntas: (a) Por que a variação linguística acontece?; (b) Como a variação linguística se propaga?; (c) Como a variação linguística se resolve? Tomando como pretexto a variação que ocorre nas vogais médias pretônicas no português brasileiro, pretendo sugerir que as línguas estão inevitavelmente sujeitas à retroalimentação positiva, o que causa algum desequilíbrio, que se manifesta como variação. Este desequilíbrio tende a se propagar, ainda que com diferenças espaciais e diferenças de timing de caso para caso, até que seja resolvido e o sistema linguístico volte a se auto-organizar, retomando sua estabilidade sob o efeito de uma retroalimentação negativa (cf. CAMAZINE et.al., 2001). Pretendo sugerir, também, que a análise da variação linguística deve considerar os aspectos etológicos e ecológicos da questão.
Palavras-chave: Variação linguística. Sistemas adaptativos complexos.
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