A benzeção e suas vozes

  • Celina Gontijo Cunha UFOP

Resumo

Resumo: Abordando áreas do conhecimento, tais como a Antropologia e a Sociologia, esta pesquisa perpassa por caminhos da cultura, da religiosidade e da medicina popular, na tentativa de compreender a origem, formação e permanência da prática da benzeção. Nesse sentido, o estudo das manifestações da linguagem está intimamente ligado aos fenômenos sociais, históricos e culturais. O nosso objeto de estudo, as benzeções, tem a oralidade como carro-chefe para o repasse de saberes e, em se tratando da língua falada, que está em constante movimento, foi possível constatar o importante papel que a linguagem exerce enquanto prática sociocultural. Considerando os elementos paralinguísticos e o silenciamento presentes na prática da benzeção, propomos compreender as rezas populares de cura, levando-se em conta a tradição oral e o rito no processo de interação social. Para tanto, foram utilizados principalmente os pressupostos da teoria da Sociolinguística Interacional, de John Gumperz e Erving Goffman, que atenta para a fala e o contexto no qual as interações são produzidas, de modo a considerar os variados aspectos da fala, do diálogo (benzedeira e Deus / benzedeira e consulente) que se estabelece nessa interação, ou seja, no ato da benzeção, destacando a linguagem como uma prática social. Palavras-chave: Benzeção. Oralidade. Cultura popular. Sociolinguística interacional.

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Publicado
2018-12-30
Seção
Artigos - Dossiê