Magaíças, patrões e bayetes:
Trabalho forçado, imobilidade social e contra-violência na poesia de Noémia de Sousa
Resumo
Neste artigo, considerando a centralidade do trabalho forçado no sistema econômico colonial, analisamos dois procedimentos de formalização e denúncia da exploração de trabalho presentes na poesia da escritora moçambicana Noémia de Sousa: 1) a descrição do percurso disjuntivo do trabalhador e de sua imobilidade social; e 2) a identificação e o enfrentamento ao agressor. Em "Magaíça", a trajetória de enclausuramento do trabalhador se materializa nas situações de ida e de retorno precário. Nos poemas “Patrão” e “Bayete”, diante da violência, o explorador é identificado, questionado e ameaçado a partir de um utópico e resistente discurso de contra-violência.
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