A BUSCA PELA EFETIVAÇÃO DA CIDADANIA DE MULHERES PERIFÉRICAS: REFLEXÕES A PARTIR DOS CURSOS DO PROGRAMA “MULHERES MIL”, REALIZADOS NAS CIDADES DE BELO HORIZONTE E DE OURO VERDE DE MINAS
Abstract
O presente trabalho visa realizar uma análise crítica sobre o processo de formação da cidadania de mulheres periféricas, em situação de vulnerabilidade social, que participaram dos cursos de capacitação profissional ofertados pelo programa do governo federal “Mulheres Mil”, executado pela Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais – Utramig, no Estado de Minas Gerais. Os cursos foram oferecidos a mulheres da Ocupação Rosa Leão na cidade Belo Horizonte e da comunidade quilombola Santa Cruz no município de Ouro Verde de Minas. As bases teóricas utilizadas foram a colonialidade de poder de Aníbal Quijano, Ramón Grosfoguel e Walter Mignolo, além do pensamento de Jessé Souza sobre a existência da pluralidade de habitus, caracterizando os tipos de cidadania existentes em uma sociedade periférica. E, para isso, partimos do pressuposto de que as mulheres participantes dos cursos partilham de um status de subcidadania, por incorporarem um habitus precário, e, também, por estarem inseridas num contexto social marcado pelas estruturas de dominação da colonialidade de poder, que ainda estão presentes na sociedade brasileira. É a partir desse cenário de exclusões e de desigualdades sociais que se pretende desenvolver este artigo, procurando demonstrar a influência dos eixos de poder da colonialidade na estruturação social e no desenvolvimento de pré-condições sociais, culturais e econômicas das mulheres periféricas, formando verdadeiras “desclassificadas sociais”. E, ainda, como os cursos oferecidos pelo programa “Mulheres Mil” contribuem para o projeto decolonial, atuando no fortalecimento da autoestima e incentivando a busca coletiva pela autonomia econômico-financeira dessas mulheres.Downloads
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