Dentro da faixa: a disputa de emissoras migrantes AM-FM por espaços no rádio brasileiro

  • João Cubas Martins UFPR
  • Maíra Rossin Gioia de Brito UFPR
  • Valquíria Michela John UFPR
  • José Carlos Fernandes UFPR
Palavras-chave: Convergência Tecnológica, Rádio Expandido, Faixa estendida, Migração AM-FM

Resumo

O artigo propõe uma observação da migração AM-FM traçando a historicidade do processo, em meio à convergência, com foco na reverberação das emissoras que não se sentem contempladas estando na faixa estendida. Estas frequências eram usadas na TV analógica e foram a solução encontrada para acomodar emissoras AM migrantes em áreas de espectro congestionado. O estudo se pauta pela Teoria Crítica da Tecnologia, de Andrew Feenberg (2005), ao propor uma análise que transborda as mudanças desencadeadas pelos dispositivos tecnológicos. Assim, a tecnologia afeta o contexto sociopolítico, uma vez que os mecanismos e as soluções não dizem respeito apenas aos equipamentos, mas a uma eficiência construída por interesses sociais e políticos. Para tanto, há uma análise da documentação encaminhada pelas emissoras à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), na qual solicitam a troca de frequência para dentro da chamada faixa convencional (de 87.5 e 108 MHz) em detrimento da faixa estendida – FM (de 76 a 87 MHz). O pedido da "mudança de plano básico FM" é feito via Sistema Eletrônico de Informações (SEI) para a Anatel, que após análise técnica autoriza a mudança de frequência. Como as solicitações podem ser negadas e depois podem ser refeitas, o conjunto analisado envolve 81 pedidos de 43 emissoras, sendo que 34 tiveram o pedido atendido.  As empresas precisam provar que podem ocupar determinada frequência após 88 MHz sem interferir em outras emissoras FM já existentes em regiões próximas. Com a documentação obtida via sistema, foram estabelecidas categorias de análise para entender o processo de mudança: quantas solicitações foram feitas, de quais estados, quantas vezes cada empresa fez esses pedidos e em quantas vezes o retorno foi positivo por parte do órgão governamental. Constata-se que a migração AM-FM interfere na forma como o público recebe essas emissoras ao notar a tentativa de não estar em uma faixa que não é captável em receptores mais antigos. Dessa maneira, o estudo destaca ainda que o rádio brasileiro chegou ao século XXI com novas definições, como rádio expandido (Kischinhevsky, 2016) e hipermidiático (Lopez, 2010) e propõe que o gargalo pode estar na não concretização do processo de digitalização da transmissão. Tal caminho – o da definição de qual formato de digitalização da transmissão radiofônica - poderia minimizar a situação crítica na qual se encontram dezenas de emissoras que, como o estudo aponta, numa tentativa de sobrevivência, se curvam em pedido à agência reguladora. 

Biografia do Autor

João Cubas Martins, UFPR

Relações Públicas formado pela PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e Jornalista formado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). Mestre e Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (PPGCOM/UFPR).

Maíra Rossin Gioia de Brito, UFPR

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP) com especialização em Comunicação Organizacional e mestrado em Estudos de Linguagens pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Atualmente é doutoranda em Comunicação na UFPR (Universidade Federal do Paraná) e coordenadora do Núcleo de Jornalismo da Agência Escola UFPR.

Valquíria Michela John, UFPR

Doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS. Professora do PPGCOM e da graduação do Decom/UFPR. Vice-líder do grupo Nefics. Coordena o grupo Obitel UFPR, integrante da Rede Obitel Brasil. Atua na Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica da UFPR e no Programa Interinstitucional Ciência Cidadã na Escola. Bolsista PQ2 CNPq. É vice-presidente da Compós.

José Carlos Fernandes, UFPR

Professor do curso de Comunicação Social - Jornalismo e docente permanente do Programa de Pós- Graduação em Comunicação (PPGCom) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Possui doutorado e mestrado em Estudos Literários pela UFPR, especialização em História da Arte no Século XX pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). É graduado em Filosofia pelo Cearp (1985), Jornalismo pela UFPR e Gravura pela Escola de Belas Artes do Paraná (1993).

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Publicado
2024-12-27
Como Citar
Cubas Martins, J., Rossin Gioia de Brito, M., Michela John, V., & Carlos Fernandes, J. (2024). Dentro da faixa: a disputa de emissoras migrantes AM-FM por espaços no rádio brasileiro . Radiofonias – Revista De Estudos Em Mídia Sonora , 15(3), 112-133. Recuperado de https://periodicos.ufop.br/radiofonias/article/view/7672
Seção
Artigos