A culinária redescoberta de Em Busca do Tempo Perdido

  • Michelle Jacob
  • Josimey Costa da Silva
  • Natália Batista
Palavras-chave: Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, culinária.

Resumo

Para além da clássica imagem do chá com madeleines, na literatura proustiana pode-se falar em uma culinária que se desenha a partir de uma outra estética, que foge aos padrões de docilidade e simetria. Elucidá-la, a partir do texto de Em busca do tempo perdido, é o objetivo deste trabalho. O conceito de culinária é pensado aqui por uma perspectiva que o compreende como sistema cultural alimentar. Para lograr o objetivo desta investigação, foram realizadas leituras da obra e uma posterior documentação, que subsidiou a análise. Proust sugere que seu romance não representa uma sistematização em um corpo único e inteligível. Delineia-se, assim, a ideia de uma culinária indócil, que pode ser descrita por quatro características: tem a cozinha como lugar de potência; compreende a feira como espaço que instaura uma poética dos alimentos; produz um discurso sobre a escassez da guerra; é alcoólica e desvenda heterotopias. Partindo da leitura do autor, que advoga para a construção de sua obra um pathos, confirma-se que a culinária apresentada por ele não poderia ser sistematizada em um logos. Assim como na obra Em busca, ela poderia ser pensada como o estudo de grandes leis e generalidades dietéticas, como uma culinária indócil.

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Biografia do Autor

Michelle Jacob

Professora do Departamento de Nutrição da UFRN. Endereço de email: michellejacob@ccs.ufrn.br

 

Josimey Costa da Silva

Docente e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia da UFRN. 

Natália Batista
Nutricionista e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN.

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Publicado
2018-08-10
Seção
Filosofia e arte