O cinema como lembrança encobridora

Palavras-chave: cinema, lembrança encobridora, ficção, memória

Resumo

O artigo trabalha as articulações entre psicanálise e cinema destacando como as reflexões sobre a construção de uma história ficcional na arte cinematográfica contribui para o debate em torno da memória e da verdade histórica do sujeito e da sociedade, assim como a psicanálise pode contribuir para elucidar parte do funcionamento da máquina de narrar histórias que é o cinema, particularmente através da noção psicanalítica de “lembrança encobridora”. É demonstrado que tal noção permite compreender a particularidade de a experiência cinematográfica articular passado e presente em uma narrativa, que em última instância é ficcional. No cinema o que se busca na organização estético-dramática é obedecer às regras pré-estabelecidas por regimes como melodrama, comédia e tragédia, a ideia não é exatamente recuperar a experiência do acontecimento tal como foi vivida, ou seja, buscar quinhão afetivo de quem o viveu, tal como em uma análise. Este estatuto é possível devido à maneira como o cinema localiza-se como forma de arte, combinando duas poéticas distintas: a poética clássica e a poética dos signos. Tais processos permitam revelar a verdade através de uma estrutura de ficção.

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Biografia do Autor

Diego Amaral Penha, Universidade de São Paulo
Psicanalista. Doutorando em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Membro do Grupo de pesquisa CNPq Sujeito, sociedade e política em psicanálise (USP), do Laboratório Psicanálise e Sociedade e do Núcleo de Psicanálise e Política (PUC-SP). Editor da revista digital Lacuna: uma revista de psicanálise (lacunarevista.wordpress.com). Crítico e colunista de cinema e quadrinhos para os sites Pipoca e Nanquim (pipocaenanquim.com.br) e Mob Ground (mobground.net).
Miriam Debieux Rosa, Universidade de São Paulo; Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Professora Livre-Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e atua na Pós-Graduação em Psicologia Clínica. Coordena o Laboratório "Psicanálise e Sociedade" e o Projeto Veredas - Migração e Cultura. Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo na Pós-graduação de Psicologia Social onde coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisa "Psicanálise e Política". Psicanalista, atuando principalmente nos seguintes temas: psicanálise, sociedade, política, ética, criança, adolescência, laço social, família, migração, imigração, exclusão.Tem várias produções no tema (livros e artigos)

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Publicado
2018-01-29
Seção
Dossiê Material Musical