Aberta a chamada de trabalhos para o dossiê "O rádio nos 60 anos do golpe civil-militar: vozes, silêncios e reverberações"
No atual cenário de disputas pela hegemonia da narrativa histórica sobre o período ditatorial, as iniciativas em prol da preservação da memória e do direito à justiça concorrem com projetos e discursos favoráveis às políticas de militarização da sociedade, de ampliação do controle social pela opressão do Estado a certos grupos/corpos e até de exaltação do regime. A permanência de tais ecos do autoritarismo evidencia a importância da análise crítica dos acontecimentos, organizações e sujeitos que compõem esse passado, e de suas consequências. Assim, no marco dos 60 anos do Golpe-Civil Militar no Brasil, a revista Radiofonias convida as pesquisadoras e os pesquisadores em rádio e mídia sonora para contribuírem com a ampliação e divulgação de conhecimentos sobre o período e seus impactos na atualidade, com foco no universo da radiofonia.
Sabemos que o Golpe que instaurou o governo ditatorial, em 1964, contou com o apoio e a conivência de grupos pertencentes a diferentes setores, inclusive o da radiodifusão. Não houve, no entanto, conformidade por parte dos que defendiam os preceitos democráticos, levando a ações e manifestações de resistência. O estado não tardou a demonstrar seu autoritarismo, promovendo uma violenta política de repressão aos que se opunham ou contestavam suas ideias e práticas. Neste contexto, o recrudescimento do controle e da violência estatal logo atingiu as manifestações culturais, causando o cerceamento das liberdades de expressão e de imprensa com a imposição da censura às produções jornalísticas e artísticas e a perseguição aos profissionais dessas áreas. Sendo o rádio um meio com grande alcance e apelo social, as emissoras foram alvo de constante interesse dos grupos no poder, e de modo geral, as que não foram instrumentalizadas em favor da ditadura foram mantidas sob vigilância, trazendo consequências até os dias atuais. As histórias das que silenciaram e das que foram silenciadas se entrelaçam para integrar uma narrativa complexa, com fundamentos e reverberações políticas, sociais, culturais e econômicas, sem a qual não é possível refletir sobre o presente ou o futuro do rádio e das mídias sonoras. Acreditamos que revisitar a temática se faz imprescindível para um entendimento mais amplo sobre a própria democracia, promovendo o desenvolvimento de uma consciência histórica mais crítica.
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