Abolir o impossível na poesia perpresentativa

Mallarmé, Haroldo de Campos e os modos de presença

Palavras-chave: modos de presença, literatura, poesia concreta

Resumo

O artigo faz uma leitura comparativa entre os modos de presença de Rodrigo Duarte e as poéticas-críticas de Mallarmé e Haroldo de Campos, a partir da investigação a respeito do duplo aspecto da irrepresentação. Assume, assim, a tarefa sugerida por Duarte de investigar a propriedade de uma suposta relação prioritária entre os fenômenos musicais – sentido estrito – e a capacidade de compreender fenômenos extremos – sentido amplo. Essa intuição é questionada por um duplo movimento: i) a separação entre irrepresentação e irrepresentável; ii) a sugestão de que a representação – o fenômeno literário –  é que talvez pudesse almejar alguma prioridade. Mallarmé e Haroldo são mobilizados como exemplos de poesia perpresentativa e colocados em par com a temática da possibilidade ou impossibilidade da poesia pós-Auschwitz. Por fim, propõe a rediagramação dos modos de presença, realocando a perpresentação entre os vértices de um triângulo – por ser híbrida – e fora do plano – porque também pode lidar com o irrepresentável. Assim, desfaz-se a ilusão de prioridade, tanto da irrepresentação, quanto da representação.

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Publicado
2025-06-26
Seção
Modos de presença nos fenômenos estéticos