O olhar que faz rasura na pintura de Modigliani

  • Ariane Santellano de Freitas Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Edson Luiz André de Sousa Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: Arte, Psicanálise, Imagem, Olhar, Modigliani

Resumo

Esse artigo versa sobre a questão do olhar nos terrenos da psicanálise e da arte, partindo dos efeitos produzidos no encontro com obra do pintor italiano Amedeo Modigliani. Ao buscar sentido para a representação no buraco dos olhos, presente nas pinturas do artista, tece reflexões acerca da imagem, no tocante à sua relação com o sujeito. Através da uma interdição na imagem, sublinha-se a importância dessas criações que implicam outro modo de acesso à imaginação, destacando a sua função de corte, função de rasgadura que faz emergir a experiência do avesso. Ao despir a imagem do véu que lhe recobre, a angústia inquietante que irrompe nesse ato de contemplação com a imagem traz a dimensão do horror proposta por Freud (1919), desvelando a nudez do olhar. Algo da morte faz rasura na imagem, na direção do que Barthes (1980) desenvolve ao situar a noção de punctum nas fotografias. Por fim, a reflexão sobre a máscara mortuária de Modigliani aponta a possibilidade de inserção da imagem na morte, reverso daquilo que o artista pinta nas suas imagens, em que algo da morte emerge lhes fazendo marca, recolocando, com isso, a questão dos limites da imagem no seu limiar com o real.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ariane Santellano de Freitas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Graduada em psicologia (UFSM). Especialista em atendimento clínico com ênfase em psicanálise (UFRGS). Mestre em psicanálise: clínica e cultura (UFRGS).
Edson Luiz André de Sousa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Psicanalista, Pós-Doutorado na Universidade de Paris VII e na École Des Hautes Études En Sciences Sociales (Ehess)-Paris. Professor do PPG Psicanálise: Clínica E Cultura e PPG Psicologia Social e Institucional (UFRGS). Pesquisador Do CNPQ. Coordenador do Lappap. Analista membro da Appoa.

Referências

AUTOR, Anônimo. Diário de Imagens. Anotações particulares. Porto Alegre, 2016.

BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

DAVIS, Mick. (2004). Modigliani: paixão pela vida. Estados Unidos. Cor, áudio, 128 min.

DIDI-HUBERMAN, Georges. (1998). O rosto e a terra: onde começa o retrato, onde se ausenta o rosto. Revista de Artes Visuais, Porto Alegre, v. 9, n. 16, p. 61-82, 1998. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/PortoArte/article/view/27751.

Acesso em: 15/09/2016.

DIDI-HUBERMAN, Georges. De semelhança a semelhança. Alea: Estudos Neolatinos, Rio de Janeiro, v. 13, n.1, p. 26-51, 2011. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S1517-106X2011000100003. Acesso em 20/09/2016.

FREUD, Sigmund. O estranho. In Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (1919). Rio de Janeiro: Imago, 2006.

GODARD, Jean-Luc. (1960). Acossado. França. Preto e Branco, áudio, 88 min.

GRANDES MESTRES: Modigliani. São Paulo: Editora Abril, 2011.

KRYSTOF, Doris. Amedeo Modigliani: A poesia do olhar. Taschen. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

LACAN, Jacques. Seminário 20 – Mais, ainda (1972-1973). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

PARISOT, Christian. Modigliani. Porto Alegre: L&PM, 2006.

SALLES, Maria José Werner. Semelhança e morte: Máscaras Mortuárias em Mallarmé e Blanchot. Tese de doutorado, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/128777. ACESSO EM 20/09/2016.

Publicado
2018-01-29
Seção
Dossiê Material Musical