A autoficção como tentativa de insurreição dos corpos ou o que aprendemos com Antonin Artaud:
refazer o corpo, esculpir afetos
Abstract
O pensamento sobre o corpo se coloca contemporaneamente no centro das reflexões sobre a arte, sobre o sujeito, suas experiências, sua singularidade, em toda complexidade de nosso estar no mundo. A própria ideia de corpo se expande para além dele, para além de sua massa corporal visível, no que José Gil vai nomear como "Corpo Paradoxal”. Um corpo feito de intensidades, um bloco denso de afetos, dono de um saber que coloca em dúvida a construção de nossa subjetividade. Esse corpo ultrapassa o familiar em nós, nos atravessa, provocando experiências para além do corpo sensível. No que se refere a composição da cena contemporânea, o deslocamento da tradicional centralidade em torno da fábula e da ação para o corpo vem provocar uma mudança radical de perspectiva sobre a própria cena. O corpo se põe como o produtor/performer de uma cena outra, ativando formas de criação que não se sustentam sobre as bases de um modelo de representação, reprodutor de sentidos estruturalmente e hierarquicamente organizado. Neste ensaio, observa-se na gênese de uma cena-corpo autoficcional tentativas de insurreição e de decolonização das estruturas de subjetivação do corpo sensível, em direção à liberdade da "dança às avessas” performada por corpos impróprios; conforme nos instigou Artaud, em seu Teatro da Crueldade.
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