A “inconfidência” da arte (Do sublime crítico: por uma melancolia afirmativa da arte)
Abstract
Quando se trata da arte, não são talvez as questões de essência, de origem ou de conteúdo que convêm. Se a arte tem alguma relação com a vida, apreendê-la “sobre o vivo” é tornar-se sensível a seu “andar”, sua “forma”, seu movimento. Isto induz a ver a obra de arte como um começo e não um fi m, uma abertura retomada sem cessar e não uma totalidade fechada ou um acabamento. A multiplicidade irradiada das obras de arte, sua diversidade divergente no tempo e no espaço, recusa todo modelo transcendente de Belo e afi rma a exemplaridade ao mesmo tempo precária e resistente, mortal e sobrevivente, da arte. Do símbolo à alegoria, é este passo desviante, este intervalo decisivo, que uma re- fl exão sobre a arte deve marcar e retomar, encontrando em W. Benjamin o élan de uma história intempestiva, o desafi o de uma fé artista que faria sair das metafísicas reinantes do Belo, de Platão a Hegel, e reencontrar a energia de uma vitalidade transbordante na qual a arte em obras nos transporta. Não é nada menos que a estranha fi gura velada de Ísis, seu passo duplo, mortal e vivente, que nos guia, de Apuleio a Kant e Baudelaire, no caminho de um sublime crítico mas vital, livre da fascinação patética pela nostalgia do Para além. Como este sublime revolucionário e transgressivo não arrastaria com ele a negrura e a petrifi cação melancólica, para reinventar o arco-íris mágico da vida viva? Reanimar a exemplar gravura de Dürer é talvez desentocar o segredo da renascença eternamente desviante, fugidia mas afi rmativa, da arte: Hugo, como Sartre, entre outros, não deixa de entrevê-lo. Retomar o élan deste desafi o que abre o mundo moderno seria a ocasião para uma discreta homenagem à coragem sublime dos poetas da “inconfidência”.Downloads
References
Sófocles: Édipo Rei
Platão: Banquete, Fedro
Aristóteles: Retórica, Poética
Plutarco: Ísis e Osíris
Apuleio: Metamorfoses
Pseudo-Longino:Tratado do sublime
D. Diderot: O Sobrinho de Rameau, Pensamentos sobre a interpretação da natureza
Kant: Crítica do julgamento
Hegel: Estética – a arte simbólica
Victor Hugo: Notre-Dame de Paris
Baudelaire: A uma passante
F. Nietzsche: Assim falava Zaratustra, Fragmentos póstumos, Correspondência
W. Benjamin: Origem do drama barroco alemão
S. Freud: O delírio e os sonhos na Gradiva de Jensen, Ensaios de psicanálise aplicada
E. Panofsky: Idea
R. Klibansky, E. Panofsky, F. Saxl: Saturno e a melancolia
J. P. Sartre: A náusea, O que é a literatura?, Diário de uma guerra estranha, As palavras V. Jankélévitch: La musique et l’ineffable
Maurice Blanchot: O livro por vir, O espaço literário, A escritura do desastre
Paul Ricoeur: A metáfora viva
Georges Didi-Huberman: Le Cube et le visage – Autour d’une sculpture d’Alberto Giacometti
Yves Michaud: La crise de l’art contemporain
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