Fronteiras entre arte e vida

  • Ricardo Fabrinni
Palavras-chave: Arte contemporânea, Estética Relacional, Comunicação, Política, Curadoria

Resumo

O artigo mostra que na arte relacional, na expressão de Nicolas Bourriaud, dos anos 1990 e 2000, é visível a tentativa de embaralhar arte e vida, o que a remete ao imaginário das vanguardas artísticas do século XX. Procura, contudo, distinguir o projeto moderno de superação da relação entre arte e vida desta proposta de “arte colaborativa” que tomamos como sintoma da arte contemporânea. Seu objetivo é assim examinar se essas “práticas colaborativas e interdisciplinares” que se aproximam do mundo da vida - segundo também Jacques Rancière e Hans Obrist - articulam os elementos do presente no gesto estético ou na forma artística - de modo a relacionar, na metáfora, estética e política - ou se essas práticas, ao contrário, atestam a neutralização da poética e o desvanecimento da política. Para tanto indagamos, a partir de Jean Galard, se esses espaços substitutivos podem funcionar efetivamente como elementos de recomposição dos espaços políticos, ou se eles correm o risco de assumirem a função de seus substitutos paródicos; ou seja: se na tentativa de suprir a ausência de políticas sociais, o que teríamos nos espaços de arte relacional é uma sociabilidade glamourizada, fictícia - um simulacro da sociabilidade dita real porque fundada na imprevisibilidade e nos conflitos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ADORNO, T. Teoria Estética. São Paulo. Martins Fontes: 1982.

ALLIEZ, É. Post-scriptum sur l‟esthétique relationelle:capitalisme, schizofrénie et consensus. In Multitudes,no. 34. Paris: Éditions Amsterdam, automne 2008.

AMBROZY, L. O blogue de Ai Weiwei: escritos, entrevistas e arengas digitais 2006-2009. São Paulo: Martins Fontes, 2013.

BAUDRILLARD, J. À sombradas maiorias silenciosas: o fim do social e o surgimento das massas. São Paulo: Brasiliense, 1982.

BISHOP, C. Antagonism and Relationnal Aesthetics. In October, no. 110, 2004.

BOURRIAUD, N. Estética relacional, a política das relações. In: LAGNADO, L. (org.):27ª. Bienal de São Paulo: seminários: Rio de Janeiro, Cobogó, 2008.

BOURRIAUD, N. Estética relacional. São Paulo: Martins, 2009.

BOURRIAUD, N. Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 2009a.

BOURRIAUD, N.Radicante: por ume estética da globalização. São Paulo: Martis Fontes, 2009b.

BURGER, P. Teoria da Vanguarda. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

CARERI, F. Walscapes: o caminhar como prática estética. São Paulo: Editora G. Gili, 2013.

CAUQUELIN, A. Arte Contemporânea. São Paulo: Martins, 2005.

CYPRIANO, F. Mostra binacional discute conceito de fronteira.In:

Folha de São Paulo, 31/08/2005.

COHEN, R. Performance como linguagem. São Paulo:Perspectiva, 1988.

DERRIDA, J. A universidade sem condição. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.

FAVARETTO, C. F. Impasses da arte contemporânea. In: AJZENBERG (org.), Comunicações e artes em tempo de mudança, 1966-1991. São Paulo, ECA-USP; SESC, 1991.

FAVARETTO, C. F. Do significado ao uso. In: Jornal de Resenhas, n. 6. São Paulo: Discurso Editorial, out./2009.

FOSTER, H. El retorno de lo real: la vanguardia a finales de siglo. Madrid: Akal, 2001.

GALARD, J. A beleza do gesto. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997.

GALARD, J. Estetización de la vida: abolición o generalización del arte? In: DALLAL, A. (org.), La abolición de la arte

. México: UNAM, 1998.

GALARD, J.La Beauté à outrance: réflexions sur l’abus esthétique. Paris: Actes Sud, 2004.

GALARD, J. Arte, transfiguração e encontro no mundo contemporâneo: metáforas pétreas. In: palestra proferida em 25/03/2005 no Colóquio Gemas da terra: imaginação estética e hospitalidade, org. SESC Pompéia. Mímeo.

GENETTE, G. L’oeuvre de l’art: immanence et transcendence. Paris: Éditions du Seuil, 1994.

GILLICK, I. ContingentFactors: A Response to Claire Bishop ́s Antagonism and Relational Aesthetics. In: October n. 115.

New York: MIT Press,hiver 2006.

GUATTARI, F. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: editora 34, 1992.

HUCHET, S. Instalação, alegoria, discurso. In:Trilhasn.6. Campina: Editora da Unicamp, 1997.

LYOTARD, J.F. L’assassinat de l’experience par la peinture: Monory. Paris: Le Castor Astral, 1984.

LYOTARD, J.F.Moralidades pós-modernas.Campinas: Papirus, 1996.

LYOTARD, J.F.O inumano: considerações sobre otempo.

Lisboa: Estampa, 1997.

OBRIST, H.U. Arte agora: em 5 entrevistas. São Paulo: Alameda, 2006.

OBRIST, H.U.Don’t Stop. New York/Berlin, Published by Sternberg, 2006a.

PELBART, P.P. Vida Capital: ensaios de biopolítica.São Paulo: Iluminuras, 2003.

PELBART, P.P. A vertigem por um fio: políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000.

RANCIÈRE, J. A partilha do sensível: estética e política.

São Paulo: Editora 34, 2005.

RANCIÈRE, J. Sobre políticas estéticas.Barcelona: Museu d‟Art Contemporani de Barcelona y Servei de Publicacions de la Universitat Autônoma de Barcelona, 2005a.

RANCIÈRE, J. Malaise dans l’esthétique. Paris: Galilée, 2004.

RANCIÈRE, J. O dissenso. In:NOVAES, A (Org.). A Crise da razão. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

STAHEL, U. (org.) Ai Weiwei: Interlacing.São Paulo: Museu da Imagem e do Som, 2013.

ZIZEK, S. Bemvindo ao deserto do Rea!: cinco ensaios sobre o 11 de Setembro e datas relacionadas. São Paulo: Boitempo, 2003.

Publicado
2017-04-19
Seção
Dossiê: Os limites da arte