Exu-Adorno: para uma Teoria Crítica do Samba
Resumo
Todo produto artístico é simultaneamente expressão e produção da cultura que o abriga e desvela suas contradições. Com base neste postulado, busca-se entender o Samba como cultura não-hegemônica e historicamente silenciada, mas que irrompe pelas fissuras e contradições da sociedade e da Indústria Cultural que o coopta, mercantiliza e silencia. Elementos como a síncope, figura rítmica que o caracteriza, a cadência do canto lírica e temática das letras são analisados como expressões do não-capturável pela lógica da estereotipia e da repetição, assim como índices da ruptura frente a uma arte pseudoelitizada e puritana que associa manifestações artísticas, corporais, religiosas e sensoriais ditas periféricas ao pecado, ao desvio e ao profano. Contra uma arte que se separa do mundo, o Samba, nascido dos cantos de Exu e dos orixás, opera no mundo e exibe em si não o que o mundo deveria ser, mas as imperfeições do que ele é, do que poderia ser e do que deixou de ser, assim como reclamado por Adorno em sua Teoria Estética, e aponta para o tempo messiânico benjaminiano, de resgate dos oprimidos.
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