Encantando a língua
a poesia marginal como arma ante ao apagamento e a invisibilidade
Resumo
Este artigo investiga a experiência de jovens negros e/ou periféricos com a palavra-poesia, analisando suas possibilidades como instrumento de reexistência num contexto histórico de apagamento e invisibilização. O texto é fruto de uma pesquisa de mestrado realizada em 2023 cujos objetivos iniciais buscaram compreender o envolvimento dessas juventudes com a poesia em interface com a manifestação da palavra no cotidiano escolar. Seu caráter é qualitativo e ela foi realizada em um sarau de poesias marginais que acontece em uma escola pública do Ensino Médio. Utilizou enquanto metodologias: a observação participante, a realização de grupo de discussão e entrevistas narrativas individuais. Os interlocutores da pesquisa foram cinco estudantes do ensino médio que também são poetas. Os resultados indicam que a palavra-poesia é vivenciada simbolicamente pelos jovens como uma “arma” de enfrentamento a problemas sociais como o racismo, a desigualdade e o apagamento. A produção das palavras-poesias, nesse sentido, se materializam como possibilidade de produção de vida, em contraste com a produção da morte imposta pela sociedade a diversos grupos vulneráveis a partir de uma disputa de narrativas e poder. Conclui-se que a poesia marginal, entoada por juventudes negras e periféricas, é uma prática que aponta para possibilidades de existências em ambientes hostis. Ela produz “letramentos de reexistência” (Souza, 2009), confrontando estigmas e reafirmando discursos autênticos. A produção da palavra-poética se configura como uma prática social que permite a inscrição desses jovens na sociedade, afirmando suas identidades e resistindo às lógicas discursivas hegemônicas.
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