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engajamento, crioulização e semovência literárias em Amílcar Cabral e Bruno de Menezes
Resumo
Este artigo investiga o engajamento, a crioulização e a semovência literárias nas poéticas de Amílcar Cabral e Bruno de Menezes, cujas trajetórias se inscrevem nas lutas de descolonização em Cabo Verde e no Brasil. Parte-se de uma análise comparativa, com base em referenciais relacionados ao contexto do estudo, para compreender como as obras desses autores expressam resistência à hegemonia cultural imposta pela colonialidade do poder. A metodologia fundamenta-se na leitura crítica e interpretativa das produções literárias e associada ao contexto histórico de formação das subjetividades colonizadas. Observa-se que, mesmo separados por contextos espaciais e temporais distintos, os dois poetas constroem uma poética de enfrentamento às estruturas coloniais, ressignificando a língua do colonizador a partir de elementos culturais e populares, de ressonâncias territoriais e de meios tocados pela luta decolonial, seja na periferia urbana da Amazônia paraense, ou nas tórridas paragens insulares caboverdianas. Conclui-se que a literatura engajada de Cabral e Menezes opera como práxis estética e política, promovendo a reterritorialização simbólica das identidades subalternizadas e o devir de uma poética diversa, afirmada na criação e reinvenção contínua da experiência histórica dos povos desterrados.
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