SOMOS A1! – Comemorações, agradecimentos e... despedidas

2023-01-02

 Finalmente, após dois anos de atraso, o Qualis Periódicos referente ao quadriênio 2017-2020 foi oficialmente anunciado e, assim, com grande entusiasmo, posso compartilhar com todes – autores, pareceristas e leitores – que... SOMOS A1!

 Ainda que esta seja sua primeira quadrienal, a Ephemera, nossa jovem revista, foi avaliada com o mais alto indicador, atribuído pela CAPES somente a periódicos de excelência nacional e internacional. Não são poucas as exigências para que uma revista alcance este patamar, e o alcançamos em menos de três anos, uma vez que a revista foi fundada em 2018 e esta é a avaliação de 2020: a Revista Ephemera nasceu, sobreviveu e se desenvolveu em um período de forte ataque às universidades públicas brasileiras – professores, pesquisadores, estudantes – , bem como à ciência, à filosofia, às artes, à cultura e à democracia em nosso país. Mas vencemos. Resistimos e vencemos, em certo sentido, inspiradas no pacto proposto por Conceição Evaristo: “eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”...

 Durante esses cinco anos, a Ephemera, além de não morrer, teve um processo de crescimento e amadurecimento fantástico, e eu quero compartilhar com vocês parte da grandiosidade disso tudo, como uma espécie de balanço geral, desde seu primeiro número em 2018 até seu último número, em 2022.

 Foram 10 edições publicadas em 5 anos, com a organização de 6 dossiês (três deles divididos em dois números, tamanho o número de artigos de qualidade que recebemos), publicando 114 artigos qualificados, em mais de 1870 páginas. E não só isso. Para chegar a estes números, há um imenso trabalho invisível, pouco percebido por quem está de fora, pois neste período recebemos, na verdade, quase 300 submissões, que foram lidas e avaliadas por mais de 40 pares (pareceristas), sobrecarregados. Destas submissões, bem menos que a metade viria de fato a ser publicada, e em alguns casos, após intensa revisão. Nestes 5 anos, tive então o prazer de editorar e publicar mais de 150 pesquisadores, oriundos de mais de 40 instituições diferentes, nacionais e estrangeiras – estas se dividindo em pelo menos 12 países, entre América Latina, África, Europa, Austrália e EUA. Publicamos e/ou traduzimos artigos do inglês, do francês e do espanhol, cumprindo com o objetivo de tornar a pesquisa em artes cênicas qualificada mais acessível em língua portuguesa.

 Como editora-chefe, estou à frente desta empreitada desde o início, tendo começado um periódico praticamente do zero, sem absolutamente nenhuma verba e pouca ajuda ou apoio para o tamanho da tarefa, em um cenário absolutamente tenebroso, como dito, para as ciências, as humanidades e para o conhecimento no Brasil: assim sendo, esta avaliação representa uma grande vitória – não só para mim, mas para todes nós. Nestes cinco anos, aprendi e cresci muito como profissional. Editorei nominalmente dois dossiês e três edições, embora tenha participado ativamente da edição de todos os números já que, para além dos editores-convidados e alguma ajuda voluntária, nunca dispus de equipe: fui revisora, tradutora, diagramadora, organizadora, programadora, mantenedora do portal, responsável pelo contato com pareceristas & autores e também por toda e qualquer outra função que a revista pudesse demandar, fosse feriado, férias ou madrugada. Basicamente, eu exerci todas as funções de uma equipe editorial...  É fundamental partilhar isso. Quase ninguém imagina em quais condições objetivas se encontra o processo de divulgação da produção intelectual, científica, filosófica e artística no Brasil –  nosso pacto de “não morrer” simboliza uma teimosia e uma opção intransigente pela vida e por um pacto civilizatório num contexto planetário tão adverso e contaminado de individualismo, imediatismo, racismo, misoginia e também de negacionismo da ciência e revisionismo mal intencionado, próprios da estratégia imperialista e colonialista de imposição da necropolítica no laço social, que ser pesquisador(a) (e divulgador(a) científica) no Brasil é ser sobretudo um(a) sobrevivente. Perseverar é preciso. E a escolha dos temas de nossos dossiês, temas como Poéticas pretas de re(existência), Teatros de Rua, e Teatro latino-americano (para além da colonização), não foi feita ao acaso, muito pelo contrário: são marcos de uma linha editorial comprometida em resistir.

 Essa vitória da vida não teria sido possível sem a práxis revolucionária concreta de algumas poucas pessoas que doaram um pouco de seu tempo e seu excelente trabalho sem receber absolutamente nenhuma remuneração – como Éden Peretta, responsável por nossas maravilhosas capas e autor do belíssimo projeto gráfico da revista; Leandro Pires, que sempre colaborou com a revisão (em língua francesa e inglesa); Tamira Mantovani (revisora em língua espanhola e co-editora convidada em pelo menos três edições), e Estela Willeman, revisora, conselheira e amiga. A vocês, meu MUITO OBRIGADA!

 E mais ainda, essa conquista não teria sido possível sem a colaboração preciosa dos e das editores convidados(as) de nossos dossiês, com suas proposições de temas atuais, instigantes e necessários. E, obviamente, a Ephemera não existiria sem o investimento intelectual de nossos inúmeros autores, nacionais e internacionais, que decidiram publicar e acreditaram em uma revista nova que, até então, nem Qualis tinha... A vocês, deixo não apenas um OBRIGADA, mas sobretudo meu reconhecimento pela excelência compartilhada e credibilidade conferida à Ephemera... E agradeço aqui, sobretudo, aos pareceristas: pesquisadores e especialistas relevantes em suas respectivas áreas de conhecimento, que investiram seu tempo e energia, ao longo desses anos, através de criteriosas avaliações que permitiram o patamar de rigor que a revista alcançou. A participação de vocês, definitivamente, tornou este A1 possível. Poucos têm a dimensão da importância de um bom parecer para construção e divulgação do conhecimento científico e quão difícil é conseguir pessoas (os “pares”) não só com o conhecimento técnico necessário, mas – principalmente – a disponibilidade para um trabalho tão complexo, porém invisível e não remunerado. Esse A1 foi construído por todos e todas vocês: editores-convidados, autores e pareceristas!

 Dito isso, há algo mais que preciso acrescentar: depois de cinco anos de trabalho intenso e exaustivo, creio que cumpri satisfatoriamente meu papel por aqui e, me despeço da editoria da, agora consolidada, Ephemera. Este é o meu presente para o PPGAC e para a UFOP, instituição da qual também me despeço. Ao professor Éden Peretta, nosso parceiro de longa data e natural sucessor, deixo os melhores votos de sucesso em um momento histórico que, espero, venha a ser de menos sobressaltos políticos e desafios do que os últimos seis anos, com a reconstrução de valores civilizatórios e sociais e a necessária valorização das humanidades e das ciências em nosso país.

 

 Vida longa à Ephemera!

              Luciana da Costa Dias

             (Editora-chefe 2018-2022)