ISSN: 2317-8892
v. 1 n. 1 (2012): Pró-Professor
No que se refere à educação e à formação de professores, quanto mais as discussões se refinam e se aprofundam, mais se distanciam da prática que se exerce na escola e de seus atores. Por outro lado, aparentemente, nenhuma profissão encontra tanta dificuldade em sair do senso comum quanto as ligadas à educação. A formação de professores enfrenta o desafio de demarcar a larga, mas pouco óbvia diferença que separa o profissional da educação de algo parecido com a antiga normalista - moça boa, “de boa família”, que só por isso já poderia ser considerada professora. Talvez pelo fato da educação começar em casa e na família ou porque o afeto permeia sua atividade-fim.
Na verdade, entretanto, ingressar nesta carreira requer mudanças na maneira de ver o mundo das relações humanas, em que as pessoas se constituem como sujeitos; requer maturidade e congruência. Além disso, o convívio com comportamentos infantis sem a eles se opor ou sem neles se perder não é algo simples – para educar crianças e jovens é preciso partilhar comportamentos regressivos sob a gestão de um adulto forte (ou um ego maduro).
Profissionalizar é adquirir ferramentas, é formar ofício, é apoderar-se de técnicas. Para o professor as condições de planejamento, a nitidez da visão sobre a situação a ser alterada, o conhecimento das potencialidades, a definição dos objetivos a serem alcançados, a criatividade aplicada ao modo como se pode alcançá-los, a atitude de avaliação constante e sensível são formas de garantir o trânsito entre ele próprio e a sua própria criança ou jovem, garantindo, assim, a aproximação afetiva e o distanciamento reflexivo, necessários para ser, de fato, um educador.
Os projetos pedagógicos de gestão ou intervenção (em diversas formas e amplitudes) são guias para que o educador processe esse trânsito de forma profissional, sem se perder em atitudes leigas ou fiadas na intuição. Por isso consideramos o letramento acadêmico primordial na formação de professores, pois, até onde nossa inteligência alcança, o método e o pensamento científicos são as formas de garantir as reflexões e as discussões em cenário ampliado da profissão professor, de seu fazer e de seus resultados.
Se, de um lado, temos o conhecimento genuíno do professor que precisa de expressão, por outro lado temos a academia e os valores nela e por ela cultivados e incentivados pelas agências financiadoras e reguladoras – especialmente CAPES e CNPq – pouco ou nada dialogando nem se aproximando do “chão de sala”.
Parece que a alimentação das necessidades de discussão da prática educativa ficou somente a cargo das revistas comerciais e os periódicos não fazem parte deste universo. Os indexados, então, parecem ainda mais distantes, já que os critérios de avaliação pouco fixam os olhos na utilidade ou aplicabilidade imediata do que se produz na academia, ficando a ciência, em todos os seus campos, restrita ou pouco acessível por sua natureza e, principalmente, por sua linguagem.
Alguns movimentos podem ser percebidos na direção do rompimento da elitização do conhecimento acadêmico. O próprio CNPq promoveu recentemente mudanças no Currículo Lattes (o maior banco de dados sobre produção científica e acadêmica no país), no sentido de contemplar e valorizar a comunicação com o público leigo e a popularização do conhecimento construído intramuros. A FAPEMIG, por sua vez, lança edital incentivando projetos de extensão em interface com a pesquisa, apostando na ação transformadora da produção acadêmica em seu diálogo com a sociedade. Isso ainda é pouco, mas já sinaliza a percepção da lacuna que existe entre a academia e sua produção e aqueles que merecem fazer uso desse conhecimento: os mesmos que o financiam, toda a sociedade.
É nesta lacuna que a Pró-Professor se instaura. Nascida de professores de professores, a revista está vocacionada para mediar e tutelar a publicação de artigos científicos produzidos pelos professores e para os professores atuantes na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Médio, resguardando as exigências de cientificidade metodológica e formal.
É por isso que nossa decisão inicial é não buscar indexações que classifiquem a Pró-Professor como “produção científica”, mas manter a busca do consenso e da reflexão constante sobre tudo o que passa por ela, segundo os propósitos expostos. Sabemos que não há espaço no cômputo das agências avaliadoras para o que aqui vai, mas estamos conscientes da importância deste projeto. Quem quiser e puder que nos acompanhe no que é para e pelo Pró-Professor.
Ouro Preto, 25 de setembro de 2012
Os editores da revista Pró-Professor